
Estar tão perto, tão certo
De uma incessante clareza –
E ver a lâmpada acesa
Porque se pestaneja
(E sempre, sempre
Se há luz, se pestaneja).
Ser redactor do milagre
De o milagre ser norma.
Exercer a liberdade
– “liberdade é emenda!” –
Ao cantar a sentença
“Não pode, não pode!”
Emendo –
Não posso:
Escrever sem consequência,
Além do Desaparecimento
(Escrevo à luz do desalento
De jamais desaparecer).
Ser na – branca – brancura
Lago sem margens da Morte,
Pulsando o vigor da ausência
Onde ausente é a procura… –
Escrever descreve a brancura.
Pudesse, pudesse…
Mas Palavra é preço,
Dizer é resto
Da conspurcação que se exige
À expressão do que vive –
Cancioneiro reduzido
A advérbio de Tempo!
Escrever, pensar, dizer
Sujam o vidro do intelecto –
Doces mentiras do Universo
Sugerindo a inexistência –
Tentam quem sou com a persistência
Indefensável
Do Instante.
Pudesse adiante
Ser escrito o regresso
À saturação do momento! –
Mas a expressão é o laço
A linha, a mão, o acto
Do Equador.
Fôra além da orla exterior,
Do rasto de tinta
Que é a denúncia
Da minha Humanidade –
Da minha incapacidade
De inexistir –
E como tudo o Resto
Seria tão indiferente,
Seria tão inabalavelmente
Pacífico,
Ausente.
Ah, se escrever não fosse
Ter nome de ladrão,
Louvar a condenação
Antes de ser abatido –
Talvez chegasse ter escrito,
Chegasse a não ter existido,
E sem mim que se inventasse,
Sem Outro que me ansiasse
– sã completude ausente –
Quem sabe eu fosse também,
Enfim,
Suficiente.
Mas não – não se escreve,
Sem a lâmpada acesa.
Vive, irmão –
E pestaneja – se há luz, irmão
Pestaneja…