Poemário

A Educação do Marinheiro

25 Janeiro, 2018
Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901), 1896, Seule.

 

No porto a Sul em que te encontro

Duas mãos unidas numa duna

Não soam sequer a uma voz.

 

 

Houve um dia – tenho pensado –

Uma certa garantia

De cada um de nós, no rasto,

Ser sempre uma coisa nova.

Para quê, então – se não somos –

Beijar – mordendo mais que a sede

Romper ao soneto um verso novo

E tão longe na duna vazia

Ser minha e tua a nostalgia

De um encanto que não houve?

 

 

Meu bem –

É noite em breve.

Meu bem, é breve o medo –

Porque não tu,

Se queres também,

Seres o nome ao meu silêncio?

 

 

É tão fugaz o desalento… –

Vem,

que há mais sossego

Em sermos dois em frente à noite.

 

 

Crês,

Submerges.

Não me importa se me queres.

Quanto a mim – já não sinto

A dureza ao vidro

Quando abro a mão

E aproximo

O copo da beira da mesa.

Deixo que a inscrita alheia leveza

Na aresta de cal dos tubarões

Torne a crueza das intenções

Algo com que lidar mais tarde.

 

 

Encosto-me a ti com lucidez

– Não há erros, não há medos

Na inconsequência de um ensaio –

E pela inspirada indiferença

Escapa uma canção qualquer

– Começo com três murmúrios

Perfeitamente repetidos

De coisa dita sem deslumbre

Now you say you’re lonely

you cry the whole night through…

 

 

No estremecimento ponderado

Sou, por certo, ardor que baste

A uma curta morte em braços.

 

 

Demoro – queres? –

Mas não te peço que fiques –

Não chegam breves deleites

Para um receio de fuga…

Tu demoras, persistes,

Olhas do fundo da maré.

Relembras comigo,

– serei já um pouco mais? –

Que são precisos vitrais,

Para aguentar a escuridão.

 

 

Cais sobre o meu peito,

– mas não, não será leito

Sem que meus olhos o vejam.

Se estremeço?

Isto chega – reconheço –

Para um instante no vazio.

 

 

Prometo.

Volto à canção, ao murmúrio

Recordo o que tens de só teu

E pelo instante adentro

– abotoando o esquecimento

No caminho que desce ao porto –

Penso o meu pensar de sempre,

“Tu foste talvez algo de novo…”

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *