
No porto a Sul em que te encontro
Duas mãos unidas numa duna
Não soam sequer a uma voz.
Houve um dia – tenho pensado –
Uma certa garantia
De cada um de nós, no rasto,
Ser sempre uma coisa nova.
Para quê, então – se não somos –
Beijar – mordendo mais que a sede
Romper ao soneto um verso novo
E tão longe na duna vazia
Ser minha e tua a nostalgia
De um encanto que não houve?
Meu bem –
É noite em breve.
Meu bem, é breve o medo –
Porque não tu,
Se queres também,
Seres o nome ao meu silêncio?
É tão fugaz o desalento… –
Vem,
que há mais sossego
Em sermos dois em frente à noite.
Crês,
Submerges.
Não me importa se me queres.
Quanto a mim – já não sinto
A dureza ao vidro
Quando abro a mão
E aproximo
O copo da beira da mesa.
Deixo que a inscrita alheia leveza
Na aresta de cal dos tubarões
Torne a crueza das intenções
Algo com que lidar mais tarde.
Encosto-me a ti com lucidez
– Não há erros, não há medos
Na inconsequência de um ensaio –
E pela inspirada indiferença
Escapa uma canção qualquer
– Começo com três murmúrios
Perfeitamente repetidos
De coisa dita sem deslumbre
“Now you say you’re lonely
you cry the whole night through…”
No estremecimento ponderado
Sou, por certo, ardor que baste
A uma curta morte em braços.
Demoro – queres? –
Mas não te peço que fiques –
Não chegam breves deleites
Para um receio de fuga…
Tu demoras, persistes,
Olhas do fundo da maré.
Relembras comigo,
– serei já um pouco mais? –
Que são precisos vitrais,
Para aguentar a escuridão.
Cais sobre o meu peito,
– mas não, não será leito
Sem que meus olhos o vejam.
Se estremeço?
Isto chega – reconheço –
Para um instante no vazio.
Prometo.
Volto à canção, ao murmúrio
Recordo o que tens de só teu
E pelo instante adentro
– abotoando o esquecimento
No caminho que desce ao porto –
Penso o meu pensar de sempre,
“Tu foste talvez algo de novo…”