
A beleza não é senão uma sobra
do mundo que marcha a combater a morte.
Na luz ou no escuro as sementes caem
Não sabem ser brancos suicídios alados
Um esporo cravado nos gumes do vento –
Parte breve do movimento
Que tudo leva, menos a mim
– sementes caem, simplesmente caem –
Num único salto cobrindo
De plumas e dedos os olhos da morte.
Sobro ao mundo porque o vejo,
Fico à sombra de tudo a ler poesia,
A acidental melodia das cordas que vibram sobre os abismos
– tentando a vida,
em cada flor,
uma ideia frágil de fruto.
Tudo o mais é cansaço, a agulha presa do compasso
– desenho elipses no cair da semente –
Arrancada ao cair de um homem que morre.
Pudesse ser a larva do bicho da seda,
Reconhecer sem eixos perpendiculares
Os frutos desperdiçados de cada amoreira…
Olho para as forma móveis de frente,
Mas os olhos estão cosidos à geometria da mente.
Pudesse, se fosse vivo,
Deitar-me na lama emplumada da guerra
Ver rebrilhar em fogo o pólen,
Ver descerrar por lei os nardos…
Ao menos morrendo por trás do pano
Roubo à morte a mortalha esquecida
– a poesia que sobra dos esforços da vida.