Com duas pedras no bolso ao invés de um nó Escreves a verdade – mentes se o dizes, “Nunca duas pessoas foram tão felizes”, Quando nunca uma pessoa esteve tão só. No Estio avistas-te um Inverno sem termo, Hóspede em ti mesma, partindo, perguntaste: “Virgínia, Virgínia! – porque te abandonaste?” Porque em vida […]
A vontade que tenho De mandar a Saudade à merda – Pestilência sobreposta ao hábito de ser eu. Tirar-me, assente em lodo, de mim ou do lodo, Rasgar não fora sombra, morder chegasse a boca, Ao cordão umbilical – Carne infestada de borboletas, Ainda pousadas, como bestas Bebendo o sangue que infectaram, Engodos […]
Ainda há pouco te vi Partir hoje, ontem, sempre, Meu arquipélago resistente Ao rio escuro da alma. Olho hoje, ontem, sempre, A forma lisa da muralha, – pedra inteira Redonda – vejo alargar-se a fronteira, Por mais que a percorra. Fosse o meu instante diferente Bebesse a seiva da fuga Aos prismas […]
Sob a abóbada da lua, no fio que escorre da aranha, ao éter se unia a grande sacerdotisa de Hellos. Colunas de adobe, como favos de mel, escorriam a matéria dourada da noite, continuavam – parecia – a pele de bronze que de pé estendia os braços através da escuridão. A meia lua de ouro, […]
A beleza não é senão uma sobra do mundo que marcha a combater a morte. Na luz ou no escuro as sementes caem Não sabem ser brancos suicídios alados Um esporo cravado nos gumes do vento – Parte breve do movimento Que tudo leva, menos a mim – sementes caem, simplesmente caem – […]
No porto a Sul em que te encontro Duas mãos unidas numa duna Não soam sequer a uma voz. Houve um dia – tenho pensado – Uma certa garantia De cada um de nós, no rasto, Ser sempre uma coisa nova. Para quê, então – se não somos – Beijar – mordendo […]
Por mim anda-me, e eu deixo A rua breve de Lisboa Recomeça-me, confia-me Três mil anos de vícios Faluas, naus, terreiros Velas intactas de fenícios Fogueiras, breus, ofícios Sedimentos de gente Sobrepostos, empilhados Sobre os olhos abertos À irreal vida de um lugar É na ideia de si e lá Que a lucidez arrefece […]
O céu abriu-se e deixou cair uma barrigada de água em cima da cidade. Cheira a terra e a algo mais que não distingo – como um metal ardido ou cânfora, algo assim. Foi como se a tarde expelisse uma cria, parida num jacto de alívio, entre membranas e molezas com cheiro a carne […]
Sopro é uma peça escrita por Tiago Rodrigues, Director Artístico do Teatro Nacional D. Maria II, estreada na 71ª edição do Festival de Avignon. A obra centra-se na ponto do teatro nacional, em actividade desde 1978, elemento-sombra que sopra as falas tragadas pelos fantasmas do palco, quando estas se evadem aos actores, seus […]
Nascida nos fartos idos de 80, Constança é a mais perfeita floração do seu Tempo. Não tanto uma floração espontânea de baldio mas antes um eclodir sistematizado de canteiro, mantendo à superfície, sem esforço, apenas as pétalas ideais a polinizações adequadas. Resultou esta estrumagem numa cidadã completíssima, combinando dotes que assombram os imprudentes: cosmopolita, […]