
Com duas pedras no bolso ao invés de um nó
Escreves a verdade – mentes se o dizes,
“Nunca duas pessoas foram tão felizes”,
Quando nunca uma pessoa esteve tão só.
No Estio avistas-te um Inverno sem termo,
Hóspede em ti mesma, partindo, perguntaste:
“Virgínia, Virgínia! – porque te abandonaste?”
Porque em vida nem Deus se salvou de si mesmo.
Rodeada de roseiras, ordenada perfeição,
Foste um lírio crescido numa falha da calçada,
Oscilando, sem força, entre a noite e a alvorada,
Vendo a luz tornar-se pouca para a torpe escuridão.
Pagas do génio a liberdade dando a alma ao cativeiro,
Virgínia teu destino foi naufragar logo à partida,
E retomar de novo ao cais, na mesma barca corrompida,
Pedra empurrada na colina, a responder porcrime alheio.
Bordaste às horas flores, douraste a aridez do pó,
Com duas pedras no bolso morrem as flores e a agonia,
Virgínia só tu podias ter dado à Morte companhia,
Quando nunca uma pessoa esteve tão só.
Virgínia só tu podias ter dado à Morte companhia,
Quando nunca uma pessoa esteve tão só.
Adorei a simplicidade com que tocou meu coração.
A simplicidade do Fado é o melhor veículo para a complexidade da tragédia humana. Obrigado!