Poemário

Fado da Virgínia

13 Dezembro, 2018
Virginia Woolf em Monk’s House, 1942.

 

Com duas pedras no bolso ao invés de um nó

Escreves a verdade –  mentes se o dizes,

“Nunca duas pessoas foram tão felizes”,
Quando nunca uma pessoa esteve tão só.

 

No Estio avistas-te um Inverno sem termo,

Hóspede em ti mesma, partindo, perguntaste:

“Virgínia, Virgínia! – porque te abandonaste?”
Porque em vida nem Deus se salvou de si mesmo.

 

Rodeada de roseiras, ordenada perfeição,

Foste um lírio crescido numa falha da calçada,

Oscilando, sem força, entre a noite e a alvorada,

Vendo a luz tornar-se pouca para a torpe escuridão.

 

Pagas do génio a liberdade dando a alma ao cativeiro,

Virgínia teu destino foi naufragar logo à partida,

E retomar de novo ao cais, na mesma barca corrompida,

Pedra empurrada na colina, a responder porcrime alheio. 

 

Bordaste às horas flores, douraste a aridez do pó,

Com duas pedras no bolso morrem as flores e a agonia,

Virgínia só tu podias ter dado à Morte companhia,

Quando nunca uma pessoa esteve tão só.

 

Virgínia só tu podias ter dado à Morte companhia,

Quando nunca uma pessoa esteve tão só.

 

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